quinta-feira, 29 de julho de 2010

Brasil Obeso

Poucas frutas e hortaliças, muita carne engordurada e refrigerante todos os dias. O novo cardápio do brasileiro, revelado pela pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, colocou o país no caminho da OBESIDADE.

A enquete, realizada no ano passado com 54.367 adultos das 26 capitais e do Distrito Federal, mostrou que quase metade da população está acima do peso saudável e 13,9% pode ser considerada obesa. O estudo investigou os hábitos do brasileiro, que, além de consumir poucos ALIMENTOS saudáveis, não costuma praticar atividades físicas. A mistura elevou rapidamente o ponteiro da balança: em apenas três anos, o percentual de indivíduos com sobrepeso aumentou quase 10%, enquanto que o de obesos subiu 22%.


Para o endocrinologista Alfredo Halpern, da Associação Brasileira para o Estudo da OBESIDADE e da Síndrome Metabólica (Abeso), os índices vão crescer ainda mais e se igualarão, em breve, aos dos Estados Unidos, onde um terço da população é obesa. "Essa prevalência vai aumentar devido ao estilo de vida, ao estresse, à falta de sono, ao consumo de GORDURAS TRANS e até por causa do ar-condicionado", diz Halpern, explicando que a falta de variação térmica é um dos fatores que levam ao acúmulo de gordura corporal. Ele destaca, além disso, a influência negativa dos disruptores endócrinos, substâncias artificiais amplamente utilizadas - da agricultura às embalagens plásticas, como copos e filmes de micro-ondas - que promovem depósitos de gordura no organismo. Além disso, o médico acredita que as pessoas estão encarando o excesso de peso com despreocupação. "De repente, virou algo natural. Mas faz mal, mata".

Estilo de vida - A nutricionista Brigitte Olichon, professora de NUTRIÇÃO da Faculdade Arthur Sá Earp Neto (Fase), de Petrópolis, também associa o aumento de peso da população ao novo estilo de vida do brasileiro. "Temos cada vez maior presença da mulher no mercado de trabalho e longe dos afazeres domésticos, optando pela ALIMENTAÇÃO fácil, pronta e rápida", observa.


A endocrinologista Thalita Bittar, do Departamento de Transtorno Alimentar da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, lembra que, além da facilidade com os ALIMENTOS prontos, a modernidade suprimiu o esforço físico. "Antes, as pessoas precisavam se levantar para mudar o canal da TV, tinham de se movimentar para levantar o vidro do carro. Agora, tudo é automático".


Para Brigitte as pessoas sabem dos riscos, mas não querem abrir mão do que trazem como hábito familiar, ou daquilo que lhes dá prazer, muitas vezes do que pode ser uma demonstração de status social. Ela cita, por exemplo, o consumo excessivo de carne gordurosa, um alimento que, até pouco tempo, não estava acessível para boa parte da população. "Com a melhoria na renda da população mais pobre, um dos primeiros ALIMENTOS que entram no cardápio dessas famílias é a carne, por uma questão emocional e social (status). As pessoas mais jovens associam, também, o consumo de carnes gordas a uma melhoria na saciedade. E não construíram o hábito de comer frutas e hortaliças na infância".


O consumo desse tipo de alimento está em baixa entre os brasileiros. A Vigitel revelou que somente 30% da população tem o hábito de incluir frutas e hortaliças no cardápio cinco ou mais vezes por semana. Para a professora da Fase, o dado é preocupante. "A Organização Mundial de Saúde preconiza consumo de cinco porções diárias (cerca de 400 g) desses ALIMENTOS para diminuir os riscos de doenças crônicas, incluindo aí a OBESIDADE. Os estudos mostram que o baixo consumo de frutas e hortaliças está entre os dez principais fatores de risco associados à ocorrência dessas doenças", alerta.


A nutricionista lembra que, longe de estar bem alimentado, o brasileiro acaba sofrendo com a falta de nutrientes, mesmo acima do peso. "O sobrepeso/OBESIDADE é um excesso na ingestão de macronutrientes, importantes para energia, saúde do sistema nervoso e construção dos tecidos. Mas, muitasvezes, não vem acompanhado de uma ingestão equivalente de micronutrientes, presentes nas frutas e hortaliças. É o que alguns pesquisadores chamam de "fome oculta", deficiência que é silenciosa e leva ao mau funcionamento do organismo, culminando nas doenças crônicas. Uma ALIMENTAÇÃO saudável está equilibrada em três pontos: macronutrientes (carboidratos, proteínas e gorduras), micronutrientes (vitaminas e minerais) e água".


Fonte: CFN